terça-feira, 20 de outubro de 2015

Shogun, ninja e samurai


Shogun

No Brasil, poucos sabem a verdadeira definição “shogun”.
Shogun era o chefe da nação, ditador militar, responsável pela execução das ordens do imperador. O Shogun muitas vezes tinha mais influencia e poder que o próprio imperador, a quem era subordinado. Shogun seria hoje o primeiro ministro, o comandante em chefe. No principio, o poder do Shogun era garantido por um exercito de guerreiros, chamados samurai (nota: não existe flexão de plural na lingua japonesa). O cargo de Shogun era hereditário, não necessariamente de pai para filho, muitas vezes o sucessor era alguém da família (clã). A escolha do sucessor por várias vezes era feito através de intrigas, mexidas nos pauzinhos, negociatas ilícitas, etc. O shogunato (sistema de governo) perdurou por 675 anos, de 1192 até 1867. Os historiadores dividem a história do Japão em shogunatos :

1) Kamakura shogunato, de 1192 até 1333 (141 anos); com o poder nas mãos dos clãs Minamoto, Kujo e outros;
2) Ashikaga shogunato, de 1336 até 1573 (237 anos); clã Ashikaga;
3) Tokugawa shogunato, de 1603 até 1868 (265 anos); clã Tokugawa

No total, o Japão de 1192 até 1868 foi governado por 40 shogun. Destes quem mais ficou no poder foi Ienari Tokugawa, de 1787 até 1837, por 50 anos. Na historia mundial recente somente um comandante ficou por mais tempo no poder : Fidel Castro, de 1957 até 2008.
O fim do shogunato deu-se em 1868, quando o último dos Shoguns, Yoshinobu Tokugawa renunciou ao cargo, mediante forte oposição política e militar; que esvaziou seu poder. Com a forçada abertura do Japão ao comércio estrangeiro, o Imperador ganhou força política e obrigou Yoshinobu Tokugawa a renunciar o cargo de shogun. Alem da força imperial,  Yoshinobu não gozava mais do prestigio dos daymios, todos descontentes com ele. O shogun Tokugawa tinha um grande e forte exercito, bem armado e treinado. Porem ele preferiu evitar o confronto com as forças imperiais, para não haver derramamento de sangue. Preferiu renunciar, após pouco mais de um ano no cargo. Com a renúncia, decidiu-se que o Imperador seria a figura máxima do Japão, e que não existiria mais um shogun. Com o fim do Shogunato, a capital do Japão foi transferida de Kyoto para Tokyo.
O termo “shogun” ainda é usado, informalmente, para se referir ao primeiro-ministro.
Yoshinobu Tokugawa - the last shogun

Yoshinobu Tokugawa, o último shogun

Ninja

Ninja ou shinobi era um agente secreto, um espião ou um mercenário, durante a época do Japão feudal. O ninja exercia funções de espionagem, sabotagem, incêndio, infiltração, assassinato e guerrilha. As funções eram, portando diferentes das dos samurais, estes exerciam o trabalho de defesa ou invasão. Além disso, os samurai, ao contrário dos ninja, trabalhavam mediante regras, tinham vínculo formalizado com um superior e portavam-se seguindo alguns conceitos de valores, sendo o mais importante a honra. Por serem “guerreiros” de aluguel, mercenários, e agirem sem nenhum escrúpulo, os ninja eram malvistos pelos samurais, que os consideravam “pessoas de segunda classe”.
Para exercer suas funções, os ninja deviam ser habilidosos em alguns quesitos, tais como disfarçar-se, escalar muros e paredes, fazer emboscadas, usar armas, fazer campanas (vigiar pessoas à distancia), nadar, etc. Existiu no Japão alguns centros de treinamento de ninja, eram secretos e situados em locais de difícil acesso.
Ninja figura 1817
Xilogravura de um Ninja, de 1817
 
Os ninja apareceram entre os séculos XIV e XV, e desapareceram com o inicio do shogunato Tokugawa, no século XVII.
Com o passar dos séculos, e da obscuridade a respeito deles (pois agiam secretamente, sem deixar vestígios), a figura do ninja foi romantizada e estilizada pela cultura ocidental, principalmente a partir dos anos 80. Mas, na realidade eram figuras traiçoeiras, matavam por dinheiro e não tinham nenhum escrúpulo. Eram movidos apenas pelo dinheiro.
Deixando de lado o lado romantico da coisa, o ninja era um terrorista, um traiçoeiro, mau carater. Sob o ponto de vista moral, um canalha.
O estereótipo do ninja todo vestido de preto faz algum sentido, essa vestimenta era para não serem vistos durante a noite.

Daimyo
(pronúncia : dái-miyô)

Do século X até a metade do século XIX, o Japão era dividido em vários feudos (latifúndios), chamados de daimyo. Esses feudos por sua vez eram arrendados a diversas famílias de agricultores.
O senhor feudal era chamado também de daimyo. Todos os daimyo eram subordinados ao shogun. Este por sua vez era subordinado ao imperador.
Os daimyo estavam constantemente em estado de beligerância, conviviam entre intrigas e ameaças. Por isso, todos tinham um exército particular, de guerreiros chamados samurai.
Os daimyo temiam que o daimyo vizinho invadisse suas terras, atacasse com seu exercito de samurais. Também existia o temor de que um daymio  rival mandasse matar-lo, dominando então seu latifúndio.
Era comum  vários daimyo pequenos e frageis se sentirem ameaçados por um daimyo mais poderoso. Esses pequenos faziam aliança para juntos se defenderem.
Cabia ao Shogun tentar manter o clima de paz entre os briguentos.
Devido a esse clima, os daimyo mantinham e treinavam um exército particular, a fim manter a segurança do feudo, e também para serviços de guarda-costas para si e para seus familiares. Esse exército era composto de samurai.
Em sua história feudal, o Japão esteve dividido em 200 a 250 feudos. No seu auge, os daimyo chegaram a ter 35 mil samurai contratados.

Samurai

Os samurai eram contratados pelos senhores feudais (daimyos), e quase nunca recebiam salário em dinheiro. O pagamento era em arroz. Todos os vassalos do feudo tinham que doar parte da colheita de arroz ao daimyo, para que esse pudesse pagar o exército de samurais. Dessa forma, o samurai era um guerreiro contratado por um daimyo, por quem ele prestava rígida obediência e devoção.
O samurai obedecia a um código de honra, não escrito (era então um conjunto de normas de usos e costumes aceito e acatado por todos), chamado de bushido. Dentro deste código, constava o haraquiri (suicídio em nome da honra, era melhor morrer do que viver desonrado para sempre). Era desonra cometer falha do tipo : fracassar numa missão dada pelo daimyo, fugir de uma batalha, etc.

O samurai usava duas espadas, uma maior (“katana”) , para o exercido da profissão; e outra menor (“wakizashi”) que era para cometer suicídio, caso fosse condenado a fazê-lo. O haraquiri era feito em um ritual, onde o próprio samurai devia usar a sua espada menor. Nesse ritual o samurai deve, defronte ao seu daimyo, com a sua espada menor (wakizashi) perfurar sua barriga e eviscerar-se. Era nomeado um assistente para decapita-lo, caso não conseguisse cometer o haraquiri por completo, ou demorasse muito para morrer. O samurai não tinha medo de morrer, para ele a morte era apenas um rito de passagem.

Embora a relação entre o daimyo e seu samurai fosse de extrema fidelidade e lealdade, alguns samurais insatisfeitos “pediam a conta”, não sem antes ser contratado por outro daimyo. Pois se ficasse desempregado, viraria um ronin.

O samurai recebia salário do seu daimyo para protege-lo. Para o daimyo o  samurai era como um seguro de vida: pagava-se, mas era melhor não usa-lo. Por isso, era uma questão de honra (bushido) defender o patrão na hora do perigo, mesmo correndo risco de morte. Se não fizesse isso, o daimyo teria pago o samurai inutilmente (alíás, em tempos de paz, ele já era um inútil). Ao fugir de sua obrigação de defender o patrão, o samurai manchava a imagem de toda a classe e ficava praticamente marcado para morrer.

Ronin
Os ronin eram os samurai desempregados, devido a morte ou queda do seu daimyo, ou mesmo por simples dispensa. Viviam então errantes. Também viravam ronin os samurai que fugiam do haraquiri. Alguns tentavam recolocação, oferecendo seus serviços a um outro daimyo.
Desempregados, eram proibidos por lei de exerceram vários tipos de atividades; e se recusavam a exercer alguns tipos de serviços por vaidade ou honra (ou por pura preguiça mesmo...), passaram a constituir uma classe de “amaldiçoados”.
Faziam então trabalhos de guarda-costas, segurança de boates, gerente de casas de jogo, porteiros de lugares suspeitos, e outros serviços que beiravam o submundo.
Muitos tornaram-se criminosos de crime organizado; assaltantes ou desordeiros; ou tornaram-se em simples “ladrões de galinhas”.
Yojimbo ronin movie - Toshiro Mifune - Akira Korusawa
Toshiro Mifune faz o papel de um ronin, no classico “Yojimbo”, do diretor Akira Korusawa; filme lançado em 1961

Curiosidade

O bushido era um sentimento tão forte, que ocorreu em 1701 o seguinte episódio : um daimyo foi injustamente condenado a morte pelo shogun. A pena foi devido a um trama armado por outro daimyo.
Os samurai do daimyo morto (e com a morte do patrão tornaram-se ronin), se sentiram na obrigação de vingar o patrão morto. Era uma questão de honra, de bushido atacar e destruir o daimyo que tramou a morte do patrão.

Esse episódio virou filmes (há várias versões) : 

Os 47 Ronis (2013), direção de Carl Erik Rinsch, hollywoodiana e fantasiosa, foi considerada a pior versão;
Os 47 Ronins (1958), direção de Kunio Watanabe,
A vingança dos 47 Ronins (1942), direção de Kenji Mizoguchi;
Os vingadores (1962), direção de Hiroshi Inagaki, considerada a melhor versão.
47-ronins 201347-ronins dvds

 

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